Mulheres e crianças são as maiores vítimas do tráfico neste período de coronavírus

Recentemente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou uma campanha de mobilização sobre o quanto vale a vida, para sensibilizar a sociedade brasileira no enfrentamento ao tráfico de pessoas, principalmente, mulheres, crianças e migrantes. Neste tempo de pandemia, a Covid-19 expôs muitas desigualdades globais, deixando milhões de pessoas em maior risco de serem traficadas para exploração sexual, trabalho forçado e outros crimes.

Mulheres e meninas já representam mais de 70% das vítimas de tráfico de seres humanos detectadas e hoje estão entre as mais atingidas pela pandemia. Mas, no tráfico de pessoas, as crianças estão mais expostas durante a pandemia. O alerta vem da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, divulgado em boletim. “Com a emergência sanitária global, as crianças podem ser as mais expostas à exploração, através da comunicação digital, tão usada pelos traficantes. É importante denunciar às autoridades competentes quem sofre o mal da escravidão”, enfatizou o arcebispo de Westminster, cardeal Vincent Nichols.

Durante este período de pandemia da Covid-19, os migrantes, os refugiados, as pessoas deslocadas e as vítimas do tráfico de seres humanos continuam sendo uma preocupação porque estão ainda mais vulneráveis com o surgimento do vírus. Segundo o Vaticano, eles estão “sujeitos a vários tipos de injustiça e discriminação que ameaçam os seus direitos, a segurança e a saúde”.

Diante da gravidade desse crime, a Comissão pede uma atuação firme das instituições públicas, para que haja um efetivo combate a esse mal e a punição de agentes criminosos. O tráfico humano desumaniza e transforma as pessoas em objetos, arrancando-lhes a dignidade e a liberdade, dois direitos essenciais. O tráfico de pessoas tem várias finalidades, como a exploração sexual, o trabalho escravo, o trabalho doméstico, a comercialização de órgãos e a adoção ilegal, entre outras. A maioria das vítimas do tráfico de pessoas identificadas no mundo é composta por mulheres, crianças e adolescentes, aliciadas para a exploração sexual. Em segundo lugar, vem a finalidade do trabalho escravo.

A campanha da CNBB também pretendeu chamar a atenção do poder público para a promoção e inclusão social das vítimas e a garantia de seus direitos. “Para que o mundo coloque a dignidade e os direitos humanos no centro da resposta e recuperação do COVID-19, precisamos fazer mais para proteger as vítimas do tráfico e impedir que pessoas vulneráveis ​​sejam exploradas por criminosos”.

História de uma sobrevivente - A história de Jucilene mostra a violência da situação. Abusada e explorada sexualmente por um parente próximo, dos 10 aos 18 anos, foi expulsa de casa quando o denunciou. Aos 27 anos, apareceu uma oportunidade para que sua vida mudasse. Surgiu na porta da escola onde cursava o Técnico em Enfermagem uma proposta irrecusável: trabalhar no exterior, aprender um novo idioma e crescer profissionalmente. Ela aceitou o convite para mudar-se a Roma, Itália. 

Cerca de 30 dias depois do convite, ela embarcou e aterrissou em um pesadelo. “Quando chegamos ao apartamento em Roma, abriu a porta, entramos e ele a trancou. Estávamos sozinhos em um quarto escuro e abandonado. Quando me virei, ele segurava um revólver. Pegou meu passaporte, me espancou, me estuprou”.

Começava o trabalho escravo para a jovem. “Por cerca de três meses, fui abusada sexualmente pelo aliciador e à noite, era negociada com outras meninas, nos ‘clubes’ de Roma. As meninas ficavam em fila e os clientes olhavam por um buraco, escolhiam e íamos para os quartos que nem tinham camas, nada. Era no chão mesmo, era assustador o que faziam com a gente”, conta Jucilene que se via obrigada a se injetar drogas e nas demais meninas para que pudessem suportar as diferentes formas de exploração sexual a que eram submetidas. Ela concedeu a entrevista em 2013, mas até hoje ela sofre as consequências desse crime.

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Jornalista Lourdes Acosta / DRT/MTE 911/MA.

Com informações do Boletim Vaticano e CNBB.

Macaé, 01/08/2020.

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